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Quanto tempo preciso correr para queimar as calorias do que comi?

Uma vez atendi um rapaz que estava começando a correr para emagrecer. Ele usava um aplicativo que calculava o total de calorias usada nos treinos, e me mostrou que em 1 mês havia gastado 3000 calorias. O argumento era “gastei bastante, então posso comer mais”. Será?

O fato é que, se dividirmos 3000 calorias por dia 30 dias, isso representa um incremento de 100 calorias por dia, o que equivale a aproximadamente 1 banana média, 1 copo americano de suco de laranja, 1 fatia de queijo branco, 4 quadradinhos de chocolate amargo ou 200 ml de cerveja. Como ele achava que estava gastando muito na corrida, controlava a alimentação durante a semana e exagerava nos finais de semana, mas mesmo assim não estava perdendo peso. Quando fizemos essas contas juntos, ficou claro que é muito fácil consumir as calorias gastas no exercício físico, por isso ela não deve ser usada única a exclusivamente com esta finalidade.

O outro fato que descobrimos foi que ele ficava com tanto medo de exagerar no final de semana, que ficava pensando dias antes o que teria para comer no churrasco, na festa, no almoço de família, e em todos os eventos e situações que ocorreriam nos próximos finais de semana. Pensava e planejava o que não poderia comer, mas quando chegava na hora acabava comendo demais exatamente daquilo que não deveria ter comido, e depois se sentia obrigado a correr longas distâncias para compensar. Mas não estava adiantando.

Para explorar mais esse tema, fizemos um exercício em uma das consultas e identificamos um padrão de pensamentos relacionados à comida. Todas as coisas que ele gostava muito – cerveja, chocolate, batata-frita, doce, pão francês, churrasco – ele classificava como ‘proibidas’, ‘erradas’, ‘calóricas’. Em contrapartida, alimentos como banana, tapioca, granola, óleo de coco eram classificadas como ‘saudáveis’ e ‘light’. O curioso é que a vontade e o exagero sempre aconteciam com os alimentos ‘proibidos’, nunca com os ‘saudáveis’. Mais curioso ainda é ver que pão francês e tapioca são igualmente farinhas brancas, mas uma é proibida e a outra não, e óleo de coco é gordura pura, mas ainda assim considerada por ele como ‘light’. O ponto deste exercício foi entender que, quanto mais ele considerava errado e proibido, maior era a tendência de exagerar quando comia, e maior a ansiedade de ficar pensando no que não poderia comer – e sempre dava errado.

Muita gente sente culpa ou arrependimento quando come alguns alimentos, e depois que começa não consegue parar. Por isso é comum ouvir “tenho que malhar o dobro para compensar os excessos”, como se isso fosse normal. Há ainda aqueles que praticam – e até profissionais de saúde que recomendam – que se fique em jejum por mais horas, ou pule a próxima refeição, para não acumular mais calorias no dia “perdido”. Eu prefiro dar um passo atrás, entender o porquê do exagero com determinados alimentos e situações, e talvez concluir que o ponto esteja justamente na forma como enxergamos a comida. Se todas elas estivessem no mesmo patamar de permissão x proibição, provavelmente não haveria exageros. Na maioria das vezes comemos de forma exagerada daquilo que consideramos errado. Se nada for errado, provavelmente não haveria exageros.

Foto de Lia Buschinelli
Sobre o autor
Lia Buschinelli é nutricionista, e acredita na transformação da relação com a comida como ferramenta para alcançar a alimentação saudável e sustentável. Preza pela nutrição humanizada, atualizada e com tato.
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